No dia internacional do museu poderíamos falar sobre a magnitude das construções modernas e os diferentes museus que ocupam espaços no mundo inteiro. Poderíamos falar de artistas que querem romper com o museu tentando criar uma arte que já foi criada, poderíamos falar dos clássicos, poderíamos falar dos modernos, ou melhor, poderíamos falar do contemporâneo, que, diga-se de passagem, sempre dá o que falar. Mas não. Não vamos falar do museu em si e também não iremos falar do que há dentro do museu, das obras dos grandes impressionistas, cubistas, expressionistas e afins. Vamos falar sobre o que representa um museu e como o mesmo se mantém como uma instituição sagrada e intocável até os dias atuais.
O âmbito inspirador das artes plásticas e dos museus sempre ecoa com um ar elitizado, um ar nobre da coisa. Aparentemente, de primeira, não fazemos parte deste meio e não nos é dado o devido direito de desfrutar – como quisermos – desses espaços. Podemos entrar e desfrutar desde que não coloquemos as mãos nas obras, desde que circulemos pelo espaço museológico sem fazer barulho, sem comentar com o amigo do lado sobre a obra legal na parede… Também é de bom tom circular sem perceber que há outras pessoas no espaço, seus sapatos não podem fazer barulho, esteja bem vestido, estamos em um lugar sagrado. Pronto, assim estamos aptos para circularmos e vermos todas as obras. E assim, o museu começou a se tornar um espaço chato, sem graça e nada atraente. Em um mundo onde podemos desfrutar de praias, futebol, bicicletas, vídeo games, WhatsApp , Tinder e muitos outros aplicáveis em um belo dia de sol, a preferência pelo espaço museológico não é a primeira opção de muita gente, não aqui no Brasil, especificamente no Rio de Janeiro. Para comprovar essa teoria podemos verificar o quanto nossos museus (ampliando um pouco a discussão, teatros e espaços culturais) são tratados com descaso pelas governantes.
Permanecemos em uma decadência cultural que muda a cada quatro anos, mas a situação é sempre a mesma. O dinheiro público não reforma os museus que estão literalmente caindo aos pedaços, o dinheiro público destrói e constrói algo totalmente novo em cima do que existiu, fazendo questão de engolir a história daquele local. Perdemos assim nossas raízes e nos vemos abstratos diante das cidades sem memória. Não há nada que incentive a visita aos museus, não há programas de incentivo (que não envolvam empresas privadas) que procurem despertar o interesse dos jovens pelo conhecimento e descoberta nesses espaços. Um exemplo claro é a escola, que nunca foi vinculada diretamente ao museu como um potencializador no aprendizado.
Podemos dizer que os centros culturais até cumprem esse papel e já fazem seu público certo, e isso se da exatamente pelo centro cultural ser um espaço multi artístico, jovem e atraente para todas as idades, um espaço que está aberto para promover e provocar discussões atuais do cotidiano.
Faltaria no museu um pouco das práticas que os centros culturais buscam executar e que são com enorme louvor. Falta incentivar esses espaços a receberem públicos diversos e diversificados em suas características, e o principal, falta mostrar ao publico que ele pode e deve ocupar esses espaços e que tudo que está ali é também seu por direito.
Ocupar de todas as formas, desde sentir o cheiro até sentar no chão para meditar. Essa sacralização, que é quebrada nos centros culturais e que ainda existe em museus mais clássicos, afasta e inibe a presença de um novo público que não têm acesso a esse tipo de instituição, inibi o publico a acreditar que fazem parte daquele meio.
A importância do museu não está só em ser um templo ocupado por obras de artistas importantes da história da arte, sua importância é prioritariamente ser transformadora, de educar o ser, de deixá-lo sensibilizado mostrando que podemos ter diversas visões e formas de representação. E esse lugar que abriga coleções e que na sua identidade nos traz representações exploradas e diversidade artística de todo o mundo, há de ser especial não só pela sua importância, mas pela importância do que podemos descobrir diante de um objeto artístico e da história que permanece ali viva.
Que possamos nesse dia internacional do museu refletir a instituição e pensar como seria bom e bonito um museu democrático e aconchegante ao espectador. Convide um amigo, vá ao museu, faça dele um lugar confortável. E eu? Eu ainda sonho em correr pelo Louvre como num filme do Godard.
Felipe Barros